sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uma nova dança...



- Eu -
pescador
trago em mim o brilho
da lua
das marés,
rumor e cadência
- tu –
singular...
inerente
à própria essência
- nós -
laço de mãos
cumplicidade
de pontos e traços
reticências...
(parênteses)
uma canção
um abraço
minha mão na tua
um novo compasso...
:
Na suavidade dessa noite
alheio às paredes que me cercam
despido de
redes, anzóis, presas...
inspirado
nos teus olhos
renascidos da lágrima
do meu sono sorvida...
e,
ao compasso do meu impávido coração,
surge um novo ritmo
uma bela canção...
:
À tênue luz
vestida e revestida...
desnuda e despida...
deitada e afagada...
olhos nos olhos
pele na pele
carne na carne
minha mão na tua
linda enlaçada
braços e pernas
firmes trançados
ritmo alucinado
dança descompassada
.................................
..................................
...Finda a música
...no compasso do silêncio
...exausta... adormecida
...agora descansa
...procuro a tua mão
...minha mão na tua
...entro no teu sonho
...sonhamos
...uma nova dança
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março, 2008 - publicado no Overmundo

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Liberdade




Sem nós
nem amarras
nem algemas
:


Sem trancas
nem grades
nem correntes

Sem corda que prenda
ou braço que renda

Nem tudo que ata
pode conter

:
Sou capaz de livrar-me de tudo
menos do que me possa deter
:
:...............................:

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Chapéu-barquinho II

!
Avisto
uma menina
apressada na multidão
distante, sozinha, desabrigada
meu chapéu-barquinho levo para guardá-la
corro pela tempestade, levanto a mão, não me olha, não...
desencontrado, encharcado, desolado, um vento danado, na chuva
sou único
culpado
desisto
sentando
no banco
pingado
ao lado
azulada
borboleta
estampada
borboleteia
polinizando
uma flor lilás
recém molhada
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O gato



Que chato
O gato
Estava estressado
Sacudindo o rabo
Será por quê?
:.
Não queria carinho
Recusava ração
Estava estressado
Sacundindo o rabo
Sem aparente razão...
:.
Será que...
Teria que lhe trocar a comida...
Ou aplicar-lhe uma injeção?
Seria dor na costela quebrada
Inflamação, infecção?
Ou teria levado a pior na briga com seu rival
:.
Estava irritado,
Eu sei
Nem queria deitar no jornal...
O que o atormentava?
Qual seria a solução?
:.
Será que era...
O barulho da rua que o incomodava
Ou a sabiá que cantava
Ou a borboleta que voava
Ou a água da torneira que pingava
Ou mesmo o sol, ou a chuva, ou o vento o perturbava ...
:.
Ele olhava, acompanhava
Piscava, não miava...
:.
Só ele sabia o que o estressava
E permanecia no seu canto
Assim
Meio deitado
De lado, estressado
Só fazia sacudir o rabo...
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Falo "O gato" porque nem todos os gatos são iguais.
Foto: OST de Adalberto Cabral de Miranda/2007

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Reluzente calmaria



Navegando
Barco de sonhos
No embalo das ondas
Sol
Reluzente
Calmaria
Quem dera, meu Deus
Conseguisse atingir
Terra firme
Sem temer,
Ancorar
Sem vacilar
O abalo das ondas
Permitisse
Atracar
Mas, por mais que pressinta
Um porto seguro
Além-mar
Só vejo
Céu e mar
Persigo horizonte
Me resta remar
Remar com precisão
Viver
Não
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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Little



Doce e pequenina Little
a maldade te excluiu
lacerou por dentro
calou para sempre
o seu miadinho rouco...
:.
Como te culpar
pelas suas escolhas?
Doce e frágil Little
nascestes assim
e agora...
jazes ao pé da jovem amoreira
no árido solo de pedra
:.
Minha magrelinha Little
tentei em vão proteger-te
da crueldade humana(?)
dos infelizes que mutilam e matam
acabando por envenenar
a própria alma.
:.
Minha menina Little
rezei, prometi, implorei,
me desesperei...
perdoa se falhei
(às vezes preces e promessas falham)
Só me restou
falar...
[falei]
Não me escutou mais
:.
Estás livre agora
das dores e mazelas desta vida
não a esquecerei jamais...
descanse em paz
minha
estrelinha
Little...
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Essa poesia foi feita em homenagem à gatinha Little, cruelmente envenenada há exato um ano.
Publicada originariamente no Overmundo (http://www.overmundo.com.br/banco/little)
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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Catavento



Gira, catavento
Venta, ventania
Pro catavento girar
...
Será que a tempestade
Vai passar
Dias de calmaria
Vão chegar
Calmo, calminho
Vai ficar
E o catavento
Parar
Nenhuma giradinha
Girar...
:.
..
Será que o vento
Vai ventar
Forte soprar
E o catavento
Girar forte
Girar
Até se soltar
Sem medo
A turbulência
Atravessar
Móbile solto no ar
Com as nuvens
Brincar de pegar
De roda
Rodar
De giro em giro
Girar
Até .........
sumir
p
e l o
a
r
:)
Venta, ventania
Gira, catavento
Alento
Subindo
Colorindo
Firmamento
Girando de volta
Campo, praça, rua...
Molhando chuva
Beijando Sol
Caçando Lua...
:)
Sonhos,
Esperança,
Sorriso,
Alegria de criança
Girando de volta
Girar
Cadenciar
Girando de volta
Voltar...
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Il poeta e le muse



Palavras
Como cordas perdidas
de uma antiga harpa
Ar que dá vida ao vento
Curvas
que salientam a paisagem
Fogo, doce, mel...
Palavras...
Gotas de oceano...
Repousadas
no fundo dos sonhos...
Gastas,
descoloridas,
inúteis...
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Quadro: Il poeta e le muse, Franco Murer
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Calmaria



Costas distantes...
Sombra e luz
Brilho de estrelas
Sem medo
É lá que estou...
Velando...
Esperando...
Despertar
Para sonhar...
:.
Além do mar
A névoa da mente
[o seu coração pressente]
A costa distante...
Chegada...
Repouso...
:.
Escolhas são feitas...
[renúncias desfeitas]
Assim...
Longe de tudo...
À sombra e à luz...
No auge da fragilidade
[ausência de sonoridade]
Ousamos sonhar...
Qual uma vela consumindo
A última chama...
Anseamos para que a calmaria
dure um pouco mais...
apenas
um
segundo
a
mais
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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Re_parto




E chegam-se
os dias
do silêncio...
:.
Há palavras
paradas na voz
sei...
conheço-as bem
não ouso proferi-las
não as formo...
não as junto...
dispersas...
ausentes de sentido
afogam-se em mim
:.
Instintivamente
contracionado
transportado
expulsado
por dores
alcanço a luz...
:.
junto_então,
formo_enfim,
a palavra que liberta
o choro contido...
grito abafado....
:.
e...
re_faço
re_penso
re_nasço...
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out/2007
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