quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fim do mundo


Antes do fim do mundo
Meu jardim ficou mudo
Murcharam-se as onze-horas*
As folhas cessaram de balançar
E o segundo Sol chegou
— Imenso!
:
Fogo e mar
Precipitando-se
Numa insólita amizade...
Ondas em silêncio
Arrastando
Invadindo
Destruindo
Engolindo cidades
— Calamidade!
:
S.O.S.
O morro virou ilha
Disputada palmo a palmo
Pelo doutor engravatado
O gato estressado fugiu arrepiado
[coitado]
O papagaio voou pro telhado
[encharcado]
— O Segundo sol chegou!!!
:
Não vou me afobar
Se meu telefone tocar

Sento à mesa
Tomo uma cerveja
Não quero mais explicação

Nem consternação
Quem quiser que se deprima
Pego uma onda até a esquina

Do nada
Por dois sóis
Atravessada
Curto meu derradeiro
Segundo a só
Brindo sem dó
Nem piedade
O fim da (des)humanidade

Olho na cara do povo
E pergunto:
"O que há de novo?"
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(*) Onze-horas é uma planta originária do Brasil que floresce da primavera ao verão e produz belas e coloridas flores. Por ser um planta cujas folhas apresentam características suculentas, deve ser cultivada sob sol pleno, mas, com certeza, não resistirá ao segundo sol. :.......................................:

terça-feira, 19 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Saudade




Tenho saudade de ser seu amigo de berçário,
de ouvir seu choro e rir do seu beicinho

Tenho saudade de aprender a andar com você
e de você aprender a falar comigo
(e depois você virou tagarela e eu bom caminhante)

Tenho saudade de ter segredo com você, de fazer pacto de cuspe, de ficar de mal só pra ficar de bem, de implicar com a sua roupa... só pra te ver bravinha...

Tenho saudade de rodar pião com você, de te pedir pra fazer rabiola pra pipa, e depois brigar quando o vento leva tudo embora...

Tenho saudade de tomar sorvete com você, e quando o meu acabar, experimentar do seu e dizer que o meu estava bem melhor...

Tenho saudade de rir com você, daquele risinho sem-graça e da sonora gargalhada, e rir de quem fica mais vermelho...
...
Tenho saudade de sentar do seu lado quietinho, e depois falar ao mesmo tempo que você e achar graça...

Tenho saudade de te chamar

Tenho saudade de você me chamar

Tenho saudade de ver você crescer

Tenho saudade de te olhar e você fingir não entender

Tenho saudade de me apaixonar por você

Tenho saudade e vivo sem em mim viver e tão outra vida espero
que morro de não morrer...

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"Vivo sem em mim viver e tão outra vida espero que morro de não morrer" (Sta. Tereza D'Ávila)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Miséria imposta



Sem pão, sem feijão
nem um grão
Só arroz podre
no lixão
:.
Vastas
Pastagens
Criação
Engordando pra corte
Faminto não vê
Carne
Míngua à morte ..........................
:.
Maltratado
Vida bandida
Sem comida no prato
Nem água bebida
No resto que não presta
Revira o que resta
:.
"Não" é a resposta
Em coro da multidão
Figurante do mundo:
Vagabundo!!!
Catador,
Malfeitor,
Humilhado,
Desgraçado!!!
Mal olhado
Fraturas não colam
Feridas empolam
Encardidas
Mãos esfolam
Última forma
Sucumbir
Sofrimento imputado
Miséria imposta
Na dor de existir
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Reflexões sobre o inconsciente (atemporal) e sua relação com o quotidiano (temporal)
Wander Motta e Lilibeth*, maio/2009
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