quarta-feira, 30 de junho de 2010

Do vento



Ventos
Que divertem
Que assustam
Que batem portas
Esvoaçam cortinas
Destelham casas
Ventos que
Envolvem
Conduzem
Arrastam
Se aventuram
Em incólumes montanhas
E despencam
Em vorazes precipícios
Ventos que
Arrepiam
Rodopiam
Desinibidas saias
Empinam
Coloridas raias*
Assoviam esquinas
Invadem festas
Penetram frestas
Sondam
Indiscretas janelas
Ventos que
Apressam idas
Atrasam partidas
E que
Secam lágrimas
Nas despedidas
Ventos que
Desgrenham cabelos
Eriçam pelos
Acendem
Apagam
Ventos que
Anunciam boas novas
Inspiram trovas
Antecedem tempestades
E, nos fins de tarde
Fazem o catavento
Girar
Sem parar
Ventos que
Ventam
Movem
O ar
Ventos que
Levam poeira daqui
E trazem poeira
De lá...
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(*) Raia é um tipo de pipa (ou papagaio em algumas regiões), sem a rabiola. Aqui no Rio de Janeiro, é muito comum na área da grande Niterói.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Dorme ruazinha... é tudo escuro



Texto:Mario Quintana
Ilustração: Elizabeth Teixeira

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Dorme, ruazinha...

É tudo escuro...
E os meus passos,

quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões,

com teus jardins tranqüilos
;
Dorme...

Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
;
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha...

Não há nada...
;
Só os meus passos...

Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...

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