sábado, 22 de outubro de 2011

Segundos a sós



Segundos
Antes do fim do mundo
Meu jardim ficou mudo
Murcharam-se as onze-horas*
As folhas cessaram de balançar
E o segundo Sol chegou
— Imenso!
:
Fogo e mar
Precipitando-se
Numa insólita amizade...
Ondas em silêncio
Arrastando
Invadindo
Destruindo
Engolindo cidades
— Calamidade!
:
S.O.S.
O morro virou ilha
Disputada palmo a palmo
Pelo doutor engravatado
O gato estressado fugiu arrepiado
[coitado]
O papagaio voou pro telhado
[encharcado]
— O Segundo sol chegou!!!
:
Não vou me afobar
Se meu telefone tocar

Sento à mesa
Tomo uma cerveja
Não quero mais explicação

Nem consternação
Quem quiser que se deprima
Pego uma onda até a esquina

Do nada
Por dois sóis
Atravessada
Curto meu derradeiro
Segundo a sós
Brindo sem dó
Nem piedade
O fim da (des)humanidade

Olho na cara do povo
E pergunto:
"O que há de novo?"
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(*) Onze-horas é uma planta originária do Brasil que floresce da primavera ao verão e produz belas e coloridas flores. Por ser um planta cujas folhas apresentam características suculentas, deve ser cultivada sob sol pleno, mas, com certeza, não resistirá ao segundo sol.
:
E o mundo segue firme, apesar dos pesares.
:
Depois dos recentes 21/5/2011 e 21/10/2011, o evento destruidor máximo do Planeta Azul está marcado para 12/12/12.
Aliás é uma bela e cabalística data.
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Publicado originariamente no Overmundo em 29/5/2009, com o título "Fim do mundo"
http://www.overmundo.com.br/banco/fim-do-mundo
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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Restos.Em.Mim



A distância do
Seu olhar
São extremos
Mar :...............: Amar
Que nunca
Habitarei
..............
A vida é maior
Que eu
.............
E você?
............
Bem,
Você
Ali
Virada pro canto
Em absoluto
Desconforto
Ou
No perfil
Que lhe favorece
No centro
Das atenções
.....................
Essa é você!
......................
Eu
Perdendo meu tudo
Descrendo
Descartando religiões
Acelerando
Emparelhando
Tentando me igualar
A você...............
(Fracasso!!!)
.................
.................
.................
Talvez
Eu mesmo
Não te conheça
O suficiente
Vendo riso
Em teus olhos
Prevendo melodia
Em teus gestos
Querendo
Implorando
Ouvir sussurros
Palavras escolhidas
Aos meus ouvidos
Arrancando
Minhas temidas
Confissões..............
................................
Restos.Em.Mim
Tentam te acompanhar
...............................
Será que quero demais?
..............................
Mas,
O que aconteceria
Se todas as fantasias
Se tornassem reais?
.............................
Acho que quero demais!
.............................
No canto
Que habitas
Absoluta
Senhora de si
Cantando
Rindo
Tentando
Me tentar
..........................
Eu
daqui
Achando
Que vais
Conseguir.............
...............................
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R.E.M forever
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sábado, 27 de agosto de 2011

Canta... dor

Liberta-me
Deixa-me voar
Para terras distantes
Sobre campos verdes
Árvores e montanhas
Sobrevoar
Flores e fontes
Florestas...
Deixa-me voltar
Para o meu lar
Pois esse canto
Que entôo
Apenas disfarça
A minha dor
De viver
Na minha mente
Tenho cravado
Uma trilha
Púrpura e cinza
Que nunca segui
Sou ave rara
Esperando pelo dia
Em que possa
Novamente
Abrir as asas
E voar
Em direção ao
Meu instinto
Me dê essa chance
Deixa-me apenas
Dormir no meu galho
E acordar
Pela manhã
E cantar para
A alvorada
Acordar o Sol
Sem cercas
Que me cerquem
Sem portas
Que me tranquem

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O avesso dos ponteiros

[composição: Ana Carolina]

Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de arrumar o armário
Sempre chega a hora do poeta a plêiade
Sempre chega a hora em que o camelo tem sede

O tempo passa e engraxa a gastura do sapato
Na pressa a gente nem nota que a Lua muda de formato
Pessoas passam por mim pra pegar o metrô
Confundo a vida ser um longa-metragem
O diretor segue seu destino de cortar as cenas
E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos
E já não vai mais ao cinema

Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você

Penso quando você partiu
Assim... sem olhar pra trás
Como um navio que vai ao longe
E já nem se lembra do cais
Os carros na minha frente vão indo
E eu nunca sei pra onde
Será que é lá que você se esconde?

Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você

A idade aponta na falha dos cabelos
Outro mês aponta na folha do calendário
As senhoras vão trocando o vestuário
As meninas viram a página do diário

O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim...

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terça-feira, 14 de junho de 2011

Arraiá do Sapo



Roda a roda

Arde o fogo

Bate a zabumba

Serpenteia a sanfona

Chora a viola

De corda

Desperta

O frio da noite

Estrelada

Terreiro de barro

Pisado

Arco enfeitado

De mato

Arraiá do Sapo

Insaciáveis

Crianças carameladas

Manhas contidas

Jovens mães

Solteiros pais

Viúvas vós

Gurias travessas

Em desinibidas

Saias rodadas

Xotes, xaxados e babados

Marcando a roda

Rastando o pé

Comendo pó

Bebendo bem

Brindando à Lua

Pela rua

Até a fogueira esfriar

Até a zabumba cessar

Até a criança parar

De chorar

Até a guria

Se escafeder

Até o cansaço

Vencer

E...

Sem mais poder...

Num canto qualquer

Morrer

E só querer

Renascer

Quando

Amanhecer...
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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Talking to the moon

À noite
Quando astros
Iluminam o meu quarto
Vou pra rua
Contar estrelas
Conversar com a Lua...
:
Será que sou
Apenas um tolo
Contando
E recontando
Conversando sozinho...?
:
Qualquer dia
Vão dizer que
Estou louco
Mas...
Que besteira
Será tolice
Será loucura
Contar estrelas
Na rua
Conversar com a Lua?
:....................:

sábado, 7 de maio de 2011

Mercy Street



O
lhando de cima
Ruas vazias
Frias...
Edifícios
Filas de carros
Parados
Frágeis
Vielas
Vidros quebrados
Almas gêmeas
Separadas
Corredores de verde
Pálido e cinza
Inúteis portões
Trancados
Acorrentados
Semáforos queimados
Praça engradada
Barco ancorado
Âncora enferrujada
Desgastada
Obstáculo indisfarçado
Segredos
Sagrados
Soprados
Sussurados
Gritados
Grafados
Em muros sujos
Profanados
Borrados
Com a foligem
Emergente
De uma chaminé
Decadente
Ao pé
Rua da Piedade
Forno ardente
Incinerador de vontades
Ao fim
E ao cabo
Insólito salto
Sem chão
Sobressalto
Rumo ao nada
Na rádio
Mercy Street
Na mente
Atordoada
Ecos de qualquer
Viagem inusitada...
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quinta-feira, 31 de março de 2011

Relíquia



Ida solitária
Trilha vazia
Estranho visionário
Ao passo largo
Ao peito amargo
Mãos aflitas
Não interagem
Pés sangram
Farpas
Rota
Jornada
Caminhos
Vãos
Marcas
Ficam
Fincam
Sementes
Que vingam
Relíquias ao solo
Brotam
Crescem
Florescem
Frutificam
Alimentam
Com seus braços
Entrelaçam
Abraçam
Festejam
O dia da volta...
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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Árvore

Eu Sou A árvore

Chico Buarque

No tronco de uma árvore
A menina gravou seu nome
Cheia de prazer
A árvore em seu seio comovida
Pra menina uma flor deixou cair
Eu sou a árvore
Comovida e triste
Tu és a menina que meu tronco usou
Eu Guardo sempre teu querido nome
E tu?
Que fizeste da minha flor?
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poeminho do contra

(Mario Quintana)

Todos estes
Que aí estão
Atravancando
O meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
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