quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fratura exposta



Massacrado
Despojado de sonhos
Temido
Medonho
Na cidade embandeirada
Espalhado
Indesejado
Mal olhado
Por quem passa ao lado
Calçado
Pela noite insone
Marcado
Na cama gelada
Calçada escarrada
O corpo encardido
Fedido
A alma vendida
Fodida
A fome escancarada
Vida amputada
Na barriga vazia
Sem pão
Sopa de ilusão
No resto que não presta
Revira o que resta
Na mão doente posta
Fratura exposta
Esmolas
Migalhas
Miséria imposta
Na dor que dói
Na solidão que destrói
No silêncio que corrói
Sem ter
Alguém
pra sentir um mau-olhado
Ninguém
pra ouvir um massacrado
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Reflexões sobre o inconsciente (atemporal) e sua relação com o quotidiano (temporal)
Wander Motta e Lilibeth*, abril/2009
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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ferida exposta



Caminhante das sombras
Mal olhado
Sobrevivente indesejado
Massacrado
Dobram sinos
Noite insone
Laje gelada
Chão escarrado
Corpo castigado
Castigo imputado
Lixeira revirada
Fome
Mão suja posta
Ferida exposta
Carcome
Implora
Cola
Dor que dói
Esfola
Silêncio
Não se come
Grita
Corre
Morre
Indigente não jaz:
(Con)some
Nem mesmo alguém
Sabe o seu nome
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O documentário "Ônibus 174", de José Padilha mostra, acima de tudo, uma realidade que de alguma forma conhecemos, mas que, no entanto, não enxergamos tão claramente a ponto de nos preocuparmos em fazer algo para melhorá-la.
A sociedade brasileira cada vez olha menos para a miséria que caminha ao seu lado, com isso fica todo dia mais próxima da violência que surge da incapacidade de visualizar o que pode ser visto de tão perto: solidariedade.
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Reflexões sobre o inconsciente (atemporal) e sua relação com o quotidiano (temporal)
Wander Motta e Lilibeth*, abril/2009
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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Relógio



Tempo
Cruel passatempo
Maldito tempo
Às vezes os meus olhos no relógio
Derrubam ponteiros
[Ou seria espelho?]
Às vezes minha mente é só cinzeiro
[Ou seria candeeiro?]
...
Embriago-me e esqueço
Nossas diferenças
Semelhantes até nos erros
Outras vezes acho que não enxergo
Os teus desejos
...
Volto a imaginar
Teu olhar
Me olhar
Penso em voltar
Contemplar
Tuas estradas incendiar
[Desisto]
...
Às vezes brigo com o vento
Desfolho meu tormento
C h o r o
Meu ridículo lamento
Reviro-me sem te encontrar
Sofrimento:
passatempo em desfavor
Cedo
Claro dia
[Amanheço]
No chão
Doloridas
Marcas projetadas
Voltas só idas
Sombra sem cor
Impassível
Relógio de sol
Sofrível
Desperta dor
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Suponho que seja difícil passar pela vida
sem construir um relógio do sol...
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terça-feira, 7 de abril de 2009

Boa sorte



Composição: Vanessa da Mata / Ben Harper
.
É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará
Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais
Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais...
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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Tsuru



O tsuru é a mais antiga ave na Terra. Há indícios que tenha surgido há mais de 6 milhões de anos.
Esta ave tem longas pernas, longo bico, longas asas, longo pescoço e... longa vida.
Apesar de se encontrar em extinção em alguns lugares do Mundo, o tsuru transformou-se numa lenda em toda a Ásia. Significa eterna juventude, felicidade, longevidade.
O significado tradicional do tsuru sempre foi o de vida longa e, portanto, felicidade. Fazem-se tsurus para enviar a pessoas doentes expressando o desejo do seu restabelecimento. O tsuru de papel dobrado é uma das criações mais importantes do origami no Japão e qualquer japonês aprende a dobrá-lo ainda criança.
No entanto, a partir do ano de 1945, o seu simbolismo alterou-se substancialmente.
Sadako, uma das muitas crianças atingidas pela bomba de Hiroshima, sobreviveu à explosão, mas, aos 12 anos, quando era uma jovem corajosa e atleta, adoeceu devido aos efeitos da radiação e foi-lhe diagnosticada uma leucemia.
Sadako acreditava na crença tradicional japonesa de que se uma pessoa doente fizesse mil tsurus de papel curava-se. Por isso ela começou a fazer tsurus de papel, mas a sua saúde não melhorava.
Cada tsuru que ela fazia era como uma prece. Dizem que, ao dobrar cada um dos tsurus, ela dizia-lhe: "Vou escrever "Paz" nas tuas asas e vais voar, voar... darás voltas ao mundo". E assim a sua prece era não só pela cura mas também pela paz mundial...
Sadako não viveu suficiente para fazer todos os seus mil tsurus mas os seus companheiros de escola completaram a tarefa.
O caso de Sadako e de muitas outras crianças em situação idêntica chegou ao conhecimento de todo o Japão e foi criado um fundo para construir um instituto para o tratamento das vítimas das radiações.
Criaram, em Hiroshima, o Parque da Paz, em 1958, onde ergueram um monumento à criança e à Paz no Mundo.
O tsuru de papel transformou-se num símbolo de paz e reconciliação.
No Japão e no Ocidente muitas crianças e adultos decidem fazer mil tsurus de papel para enviar para o Parque da Paz em Hiroshima como prova de solidariedade e defesa da Paz no Mundo.
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Foto: meu tsuru 45/1000
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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mentiras


.
Pobres criaturas
Em matos sombrios
Vidas fingidas
Entranhas corroídas
Observo do alto
Onde jamais chegarão
Inimizade
Indignidade
Fogem-lhes os amigos
Vendem a alma
Tudo
Por nada
:.
Precioso tempo
Jogado fora
Inúteis palavras
Que soam, ecoam e voam
E caem aos meus pés
Sem que doam...
:.
Ouço do alto
M e n t i r a s
Lembro, calado
Do tempo
Meu
Maior
Aliado...
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1º de abril