terça-feira, 16 de setembro de 2008

Fogo morto



Deitado solitariamente
em berço esplêndido
ao som do mar
e à luz de um céu profundo
ousou .........................
Uma visão
Uma ilusão
Descabidamente
Não soube o que fazer
:.
Quanto tempo teria?
Permaneceria em berço esplêndido?
— Decididamente ali não seria o seu lugar
:.
Para estar ali
Àquela luz de um céu
pra lá de profundo
(Teria?)
Um motivo
pra lá de justo...

Seu lugar é longe,
bem longe...
Lá onde tudo começa,
no engenho onde o fogo vivo
move engrenagens
e alimenta
sonhos .........................
:.

onde um menino ainda espera
paciente
degrau de barro...
olhar distante...
na cabeça
um pião
nas mãos
enxadão
na barriga
sopa de ilusão...
:.
A viagem é longa,
o caminho íngreme
e a chuva certa
É de lá
que nunca
deveria ter saído
E é pra lá
que vai voltar
praquele engenho
tornar a botar
E o
menino a sonhar e sorrir e brincar
.:.
Sair cedinho...
Ouvir o tico-tico no galho alto cantar
e imitar, assoviar
No mato abrir picada, dar risada,
fazer estrada no caminho torto
Reviver a chama, esquecer o drama
do berço esplêndido,
das ilusões perdidas,
da selva fria,
do menino triste,
do fogo morto.........................:
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Wander & Lilibeth, setembro, 2008
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Os "engenhos" do Nordeste eram, originalmente, estabelecimentos agrícolas destinados à cultura da cana e à fabricação do açúcar. Com a ascensão das usinas, que passaram a comprar dos engenhos sua produção bruta, a cana de açúcar ainda não processada, para fabricar o açúcar, a maior parte desses engenhos foi, aos poucos, deixando de "botar", moer a cana para a fabricação do açúcar. Passam, então, apenas a vender a matéria prima às usinas, tornando-se engenhos "de fogo morto". Perdem, assim, boa parte de seu poder, tornando-se reféns dos preços pagos pelas usinas. É como se encontra, ao final de Fogo Morto — obra prima do escritor paraibano José Lins do Rego —, o decadente engenho Santa Fé.
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